Opinião
Autor: Willi Coloza Hoffmann e Celso Simões Alexandre
No dia 8 de fevereiro o Fantástico, veja o video aqui, dentre todas as fantásticas reportagens que leva ao ar, apresentou uma sobre o ar condicionado. Nada novo, nada informativo. Apenas a velha e boa fórmula da apelação, do sensacionalismo, tão ao gosto da imprensa brasileira, notadamente a televisiva, que mascara, despudoradamente, a ficção com fatos.
O mote é o de sempre: o ar condicionado mata. A “reportagem” apresentou, inclusive, suas provas: uma moça que perdeu parte dos dedos dos pés e das mãos devido à infecção provocada pela legionella.
Disse o pai, com a melhor das intenções, que a filha viaja muito, sendo que no ano passado esteve em 22 diferentes cidades, sempre hospedada em hotéis com ar-condicionado.
Em contraposição ao Fantástico que, se de acordo com o Aurélio quer dizer “incrível, extraordinário, prodigioso”, podendo ser, também, “falso, simulado, inventado, fictício”, decidimos publicar a opinião de gente séria, que entende do assunto.
Para não ficar apenas no “fantasmagórico”, ainda segundo o velho e bom Aurélio.
Além da tradicional coluna Opinião, de Sidney de Oliveira, que trata do assunto, publicamos dois depoimentos acima de qualquer suspeita: Wili Coloza Hoffmann, da Veranum Tempus, e Celso Simões Alexandre, da Trox.
Com a palavra, os profissionais: Willi Coloza Hoffmann “O que me pareceu na matéria foi que eles estão querendo fazer novamente terrorismo com o público. Mostram fotos e filmes de dutos muito sujos que tenho minhas dúvidas que sejam dutos de sistemas de conforto. Talvez alguns deles até sejam.
Me pareceu muito confuso a apresentação de casos de doenças infecciosas ligadas aos sistemas de ar condicionado e também da legionella, que é encontrada nas bacias das torres e não no sistema de ar condicionado, como afirma a microbiologista, o que ficou parecendo que todos estão sujeitos a terem estas doenças por entrarem em um ambiente climatizado. Sistemas de climatização de conforto e de hospitais foram citados sem as devidas distinções.
Existe sim norma para ar condicionado de hospitais (NBR 7256), o que não existe é uma portaria ou RDC da Anvisa sobre este assunto, como afirma Cozac. Concordo que o problema da qualidade do ar de interiores é um problema ainda em fase de equacionamento.
Avanços estão acontecendo. A norma NBR 16401-2008 tem uma parte somente sobre este assunto e estabelece critérios e parâmetros claros para que os sistemas de climatização contribuam para a qualidade do ar dos usuários de ambientes climatizados.
O que não concordo é com a forma ‘terrorista’ de apresentar as imagens de uma forma a criar um pânico nos usuários e afirmar que o problema é o ar condicionado, enquanto o problema está em sistemas mal projetados, sem manutenção e com operação sofrível.” Celso Simões Alexandre “Mais uma vez, uma rede de televisão de grande projeção nacional apresenta o AR CONDICIONADO como grande vilão.
O titulo até que não está fora da realidade. O ar condicionado pode trazer ameaças à saúde bem como, acrescento eu, um carro sem manutenção, um carro mal utilizado (velocidade acima do permitido), estradas mal conservadas etc. etc. O problema é que se induz o telespectador a pensar algo que não é correto. Parece até que os microorganismos patogênicos “nascem” dentro dos sistemas de ar condicionado.
Os microorganismos estão no ar, e o que o sistema de ar condicionado pode fazer é ajudar a reduzir a sua concentração no ambiente, se bem instalado e mantido ou amplificar a contaminação, se mal instalado e mal mantido.
Apetece convidar nossos médicos a fazerem operações em salas fechadas e sem ar condicionado ou a população a trabalhar em qualquer escritório de São Paulo só com a janela aberta e exposta assim ao calor, ruído, chuva, poluição exterior etc, já para não falar na maravilha que seria utilizar nossos carros nas ruas da cidade e de janela aberta. Deve ser saudável e SEGURO. Alguns pontos da reportagem merecem consideração especial.
Só tem sentido dizer que o ar dos ambientes com ar condicionado apresenta grande quantidade de fungos e bactérias, se se comparar com sala igual sem ar condicionado e com as condições do ar exterior nos locais de medição.
A versão sobre a responsabilidade do ar condicionado na morte do ministro Mota ultrapassa o fato que isso foi desmentido depois. As condições de saúde do ministro eram extremamente precárias, mas isso parece que também não interessa tanto.
Nenhum filtro razoavelmente eficiente permite lavagem, e limpar o equipamento só uma vez por ano também não é correto. A reportagem pode induzir também a pensar que a solução é alugar o robozinho, e isso não é correto.
Consciência do problema e seu tamanho e ter o direito de saber a qualidade do ar que respiramos, só podemos estar de acordo. Sabemos também que, do que os entrevistados falam em televisão, só se pinça o que dá IBOPE, e uma frase fora do contexto pode não exprimir adequadamente o que o entrevistado disse.”
Fonte: www.nteditorial.com.br