Larry Weber acha que a tecnologia de plasma ainda não atingiu seu ápice. "O melhor ainda está por vir", diz esse visionário de 59 anos, que se define como "tecnicamente aposentado". Poucas pessoas no mundo entendem mais do assunto do que Weber, e certamente a maioria dos executivos na indústria eletrônica concorda que ele e suas idéias deixaram sua marca.
Esse cientista cuja longa barba já virou marca registrada entre fabricantes e pesquisadores continua na ativa, apesar de não ser mais ligado a nenhuma empresa. Aposentado na Panasonic em 2004, Weber passa o tempo fuçando suas coisas no porão de sua casa, no interior do Estado de Nova York, onde atualmente pesquisa as possibilidades de reduzir o consumo de energia nos displays de plasma - um antigo problema nesse tipo de aparelho.
Nas últimas quatro décadas, Weber foi um assíduo colaborador nos trabalhos envolvendo a tecnologia de plasma. Ele começou ainda como estudante universitário, nos anos 60, e até hoje é dono de 15 patentes ligadas a esses displays. Foi ainda figura essencial no desenvolvimento do mercado de plasma, com estudos detalhados sobre contraste e outros aspectos da imagem. Hoje, como voluntário, preside a SID (Society for Information Display).
"Pode-se dizer que, se não fosse por Larry, não existiria o mercado de plasma como temos hoje", resume Paul Liao, diretor técnico da Panasonic, a empresa que mais investe nessa tecnologia. Liao trabalhou com Weber desde 1996, quando a Matsushita - dona da Panasonic - comprou dele a empresa Plasmaco, cuja especialidade era justamente a pesquisa nesse campo. "Larry é um visionário, com uma tremenda paixão para tornar realidade aquilo que sonha".
Foi mesmo difícil para esse inventor, que viu o plasma nascer como uma tecnologia revolucionária, assistir à chamada comoditização do produto nos últimos anos. "Se eu conseguir encontrar um meio dos displays consumirem menos energia, será um feito maior do que tudo que já fiz antes", diz Weber. Claro que ele não é o único a se preocupar com isso, e com seu currículo até que poderia descansar e deixar essa missão para outros. Mas Weber não dá sinais de que irá se acomodar. "É minha paixão", diz. "Tenho que tentar, porque é uma grande oportunidade de completar as mudanças que iniciamos".
Como estudante da Universidade de Illinois, Weber conheceu Don Bitzer e Gene Slottow, engenheiros que ganharam o crédito pela invenção do plasma, em 1964. Na mesma época, as japonesas Fujitsu - fabricante de displays - e NHK - maior emissora de TV do País - também trabalhavam numa versão diferente daquilo que seria o plasma. Weber fez seu curso de pós-gradução exatamente sobre essa matéria; hoje, lembra que ninguém acreditava muito naquilo. "Era algo como uma aventura de algum professor, nada muito animador", recorda.
Mesmo assim, ele se apaixonou pela questão e, enquanto a maioria dos outros engenheiros dedicavam-se a estudar os semicondutores, concentrou-se no plasma. Empresas e cientistas da época precisavam desesperadamente de um tipo de display que pudesse exibir melhor gráficos e figuras de alta resolução. E, ao contrário do que ocorre atualmente, a prioridade não era colocar a maior quantidade possível de pixels sobre uma superfície superfina; manter uma imagem na tela por algumas horas já era um belo desafio.
O desafio do consumo de energia
O esforço de Weber para enfrentar o problema do consumo excessivo é, na verdade, um replay daquele seu trabalho inicial. Depois de formado, ele permaneceu na Universidade como professor, dirigindo um grupo de estudos sobre plasma, e graças a essas pesquisas contribuiu decisivamente para reduzir o consumo de energia nos circuitos utilizados nos displays da época. Atualmente, todo TV de plasma utiliza essa sua invenção, chamada ERSC (Energy Recovery Sustain Circuit, algo como "Circuito de Conservação de Energia Recuperada"), que consegue diminuir o gasto de energia em até 150 watts.
Na época, empresas como AT&T, IBM e Texas Instruments, que pesquisavam as apliações possíveis do plasma, começavam a abandonar esse ramo de negócio, o que culminou com uma péssima notícia para Weber, em 1987: a maior fábrica de plasmas do mundo, mantida pela IBM na cidade de Kingston, estado de Nova York, seria fechada para dar lugar a uma fábrica de computadores. Foi difícil para Weber. "Eu tinha trabalhado 18 anos naquele projeto, e meu sonho simplesmente estava se evaporando", lembra ele.
Depois de cair em depressão por cerca de um mês, Weber pensou que talvez ali estivesse uma boa oportunidade. E, ao fazer isso, acabou salvando o mercado de plasma. Aos 40 anos de idade, e "falido", como ele mesmo se recorda, encontrou pessoas na IBM que gostariam de trabalhar com ele e ajudá-lo a adquirir as máquinas que haviam sido desativadas da fábrica de plasma e a financiar uma nova empresa. Deram a esta o nome de Plasmaco, que imediatamente passou a produzir displays de 10" e 21", monocromáticos, que utilizavam exatamente o tal circuito ERSC.
Para muitos, àquela altura a tecnologia de plasma já se destinava à extinção, mas Weber decidiu persistir. "Talvez eu tenha sido ingênuo, mas sabia que o plasma ainda não tinha atingido todo o seu potencial". A incerteza voltou em 1993, quando uma tecnologia concorrente (o LCD) começou a incorporar múltiplas cores, enquanto o plasma só reproduzia bem preto e laranja. Na verdade, não é que o plasma não podia reproduzir outras cores; simplesmente, isso ainda não havia sido necessário.
Em janeiro de 94, diante da ameaça do LCD, Weber decidiu apostar nos display de plasma coloridos, conseguindo produzir os primeiros exemplares no tempo recorde de apenas cinco meses. Além das cores brilhantes e vivas, o que mais impressionou os especialistas na época foi a taxa de contraste do plasma, recorda ele, que aproveitou um evento da indústria para mostrar a novidade. Na pressa, porém, Weber não ligou fonte de alimentação aos pixels pretos, somente aos coloridos. "Todo mundo adorou as cores, mas notaram que as áreas em torno dos objetos coloridos estavam completamente escuras", diz ele.
Assim, de forma puramente acidental, surgiu a noção de contrast ratio, utilizada como referência até hoje pela indústria. "Eu tinha que inventar alguma coisa, e naquele momento percebi como o contraste era importante para as pessoas". De fato, era uma taxa de apenas 400:1 (hoje, os bons displays atingem facilmente 20.000:1), mas felizmente para Weber e sua Plasmaco a novidade atraiu o interesse da japonesa Matsushita, dona da marca Panasonic, que dois anos mais tarde, em 1996, adquiriu a empresa e também sua tecnologia de contraste.
Competir com os fabricantes de LCD seria inútil, diz Weber, e por isso ele decidiu partir para algo diferente. "Sabíamos que LCD e CRT não podiam oferecer telas grandes, e foi nisso que nos concentramos". Na época, um TV de 42" era considerado enorme, mas a Plasmaco já sabia como produzir modelos de até 60". Na verdade, o problema maior não era fabricar o painel desse tamanho, mas encontrar um forno capaz de acomodar e aquecer um vidro de 60".
Aumentar o tamanho das telas foi um feito que elevou o plasma a um novo patamar de mercado, o que durou cerca de uma década; Mas, como em tudo na indústria eletrônica, as coisas mudam. Hoje, TVs LCD podem também ser grandes - este ano, na CES, a Sharp demonstrou um modelo de 108". E os LCDs de 37" a 42" atingem preços cada vez mais atraentes, com mais e mais fabricantes entrando nesse segmento.
Mas Weber ainda sonha. "Talvez minha maior contribuição tenha sido justamente sobreviver esse tempo todo", diz ele. "Não existem muitas empresas dos anos 60 ainda ativas no segmento de plasma. No fundo, o plasma acabou se saindo muito melhor do que eu mesmo imaginava".
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Autor: Erica Ogg
Fonte: https://revistahometheater.uol.com.br